Nel blue dipinto di blue: Dalton, Teixeira de Sousa e Pavarotti

Tendo sido hoje o meu último dia de férias (viva a liberdade!), fui com a família passar o dia no Sambala Village. Após o almoço, estendemo-nos à beira da piscina sobre uns catres ali colocados para o efeito. Olhava eu ora para o azul do céu, ora para o azul turquesa da piscina, tentando magicar o artigo que deveria escrever neste blog, ao regressar a casa.
 
Nisto, oiço meu filho ao lado, soltar uma valente gargalhada. Virei-me e deparei com um livro de banda desenhada de Lucky Luke, atrás do qual pude discernir o cabelo do rapaz, cuja cabeça enfiara pelo livro adentro. "A balada dos Dalton" era o título. Fiquei logo baralhado, pois ocorreu-me não ter mencionado o "outro" Dalton no artigo da semana passada. Entretanto senti saudades dos livros de quadradinhos da minha infância e das peripécias à volta das leituras dos mesmos, muitas vezes às escondidas dos nossos progenitores.
 
 
Voltei ao azul envolvente para me concentrar de novo no que iria escrever. O céu, a piscina, o mar próximo (região da praia de São Francisco) deram-me a sensação de vaguear em grande liberdade e acabei dormitando a sonhar que voava sobre as ondas do mar, acompanhado por anjos daltónicos que só viam o azul. Acordei pouco depois com uma nova, troante gargalhada. Levantei-me e fui nadar!
  
À tardinha, regressámos à Praia e dirigi-me ao computador para iniciar este artigo. Olho para o cinzento retrato de Rutherford do artigo anterior e volto a sentir remorsos por não mencionar o nome do "pai da teoria atómica moderna", ou seja John Dalton. Este estudioso e pesquisador transdisciplinar, não foi Professor universitário, mas metia muitos deles no bolso, como podem ver, seguindo o link do nome.
 
 
 

Mas, o sonho da "djonga" com os anjos daltónicos persegue-me, pelo que talvez seja bom mencionar o facto deste cientista ter feito um estudo sobre a discromatopsia, ou seja a dificuldade que algumas pessoas têm em percepcionar certas cores. Dalton padecia desta anomalia que veio, em sua homenagem, a ser conhecida por Daltonismo. Acontece que tenho dois cunhados e um meio-irmão daltónicos! esses não distinguem o verde do castanho: não distinguiriam por exemplo o número 6 na figura ao lado.

 

 

Vejo que hoje, me sinto levado no vento, qual escritor inspirado pelo azul do mar. Poderei eu um dia tornar-me escritor? A minha área é das ciências exactas e estou habituado a usar poucas palavras para ir direito a assuntos, sem rodeios! Quando disse isto a um amigo, ele me lembrou que Teixeira de Sousa era médico, porém, um respeitado escritor cabo-verdiano!

 

Efectivamente, Henrique Teixeira de Sousa é descrito como um escritor influenciado pelo Mar. Vejamos um extracto do site "Livro di Téra" a propósito do escritor e seu livro "Capitão di Mar e Terra":

 

 

"A temática do mar foi a obsessão e o fascínio de Teixeira de Sousa, o que é característico, aliás, em diversos escritores cabo-verdianos. É o mar cercando as ilhas, o mar convidando à evasão, o mar, em suma, aprisionando e aliciando à aventura, à emigração. Foi assim em Contra Mar e Vento e em Ilhéu de Contenda, é assim em Capitão de Mar e Terra."

 

 

Há bem poucos dias descobri que tenho um laço de parentesco com Teixeira de Sousa. Já tratei de o colocar na árvore genealógica (ver aqui). Talvez esses laços e a vivência do dia de hoje me esteja a conduzir para "me fascinar" à Teixeira de Sousa: mar, evasão, liberdade, um daltonismo que faça ver tudo pintado de azul! N.B.: O último livro de Teixeira de Sousa tinha capa azul e intitulava-se: "Ó Mar de Túrbidas Vagas". Mas isto me faz lembrar uma maravilhosa canção criada em 1958 por Domenico Modugno and F. Migliacci, intitulada "Nel blue dipinto di blue", mais conhecida por VOLARE:

 

Penso che un sogno così non ritorni mai più

Mi dipingevo le mani e la faccia di blu

Poi d'improvviso venivo dal vento rapito

E incominciavo a volare nel cielo infinito

 

Volare, oh, oh!

Cantare, oh, oh, oh, oh!

Nel blu, dipinto di blu

Felice di stare lassù

 

E volavo, volavo felice più in alto del sole ed ancora più su

Mentre il mondo pian piano spariva lontano laggiù

Una musica dolce suonava soltanto per me

 

Volare, oh, oh!

Cantare, oh, oh, oh, oh!

Nel blu, dipinto di blu

Felice di stare lassù

Nel biu, dipinto di blu

Felice di stare lassù

 

 

Poderia vos oferecer esta canção interpretada pelo próprio Domenico Modugno (ver aqui) mas, sendo tantos os intérpretes ao longo dos anos, e em diversas línguas (inclusive em português por Simone de Oliveira - ver aqui), tenho o privilégio da escolha. Assim aqui vai ela, interpretada pelo maior tenor do século XX: Luciano Pavarotti. Reparem nas paisagens do clip que se segue, onde o mar e o azul dominam:

 

..

 

 

Já descobri a razão desta inspiração do "outro mundo" que adveio da conspiração destas nobres almas:

 

  • John Dalton nasceu a 6 de Setembro de 1766 (243º aniversário hoje)
  • Henrique Teixeira de Sousa nasceu a 6 de Setembro de 1919 (90º aniversário hoje)
  • Luciano Pavarotti faleceu a 6 de Setembro de 2007 (2º aniversário hoje)
sinto-me:
música: VOLARE
publicado por jorsoubrito às 08:28 | link do post | comentar