Estrelados ovos, expressiva pintura e roupa lavada

Ontem Sábado, houve cachupa em nossa casa. Como manda a tradição, no dia seguinte (hoje) ao pequeno-almoço, serve-se a conhecida cachupa refogada, com linguiças da terra e ovo estrelado!

- "Mauro! hoje vais tu preparar a cachupa" - diz a mãe com um sorriso jocoso.
- "Coitado... nem sabe estrelar um ovo!" - remata a irmã.

Com este remate, pus-me a reflectir sobre a frase, e reparei que para quem já cozinhe, estrelar um ovo lhe parece coisa tão fácil que o mais comum dos mortais é capaz de o fazer. Será mesmo assim tão fácil? Algumas perguntas:

  • Como se quebra o ovo? Numa tigela ou num prato? directamente para a frigideira?
  • Numa frigideira de chapa grossa ou fina? Sobre uma placa aquecida e untada?
  • Um fio de azeite ou muito óleo para que se possa regar a gema com essa gordura?
  • Azeite, óleo ou manteiga?
  • Gema no final, líquida ou cozida?
  • Primeiro verte-se a clara e no fim a gema, ou de uma só vez?
  • E o sal? em cima da gema, só na clara ou em ambos? Quando é que se polvilha o sal?
  • Estrela-se um a um ou em grupo?

 

Bem, na realidade, isto é um pouco "à vontade do freguês!" Podemos dizer que em certa medida, deve-se distinguir entre um ovo estrelado mal passado (bom para cavalgar um bife e servir de fonte de líquido amarelo onde se pode embeber pedaços de carne ou de pão, à medida que se consome o prato) e um ovo estrelado bem passado (quando o ovo em si é a iguaria e o resto o acompanhante).

No meu entender, para um ovo estrelado mal passado, um fio de azeite sobre uma placa térmica (ou frigideira de chapa grossa e película aderente), dará o melhor resultado. Sal só sobre a gema, a meio percurso. Ovos da terra, de gema bem avermelhada, são os mais saborosos. Aqui o que se quer é "sentir o ovo!", ou seja, pôr a ênfase na intensidade do gosto.

Para um ovo estrelado bem passado, aconselho usar azeite à vontade para poder ser recolhido por uma colher e vertido em momento certo sobre a gema. Previamente, pode-se alourar um dente de alho no azeite (e/ou uma folha de louro). Retirar estes ingredientes do azeite, baixar o lume e abrir os ovos (vereficados frescos) sobre o azeite (dois ovos no máximo de cada vez). Ao esbranquecer da clara, polvilhar a gema de sal fino, aumentar de novo o lume, inclinar a frigideira e com uma colher de sopa, verter o azeite quente sobre a gema até que fique cozida. Há quem prefira com uma espátula, revirar o ovo de cabeça para baixo, deixando a gema em contacto directo com o fundo da frigideira. No fim, pode-se cobrir com uma fatia fina de queijo flamengo e polvilhar com pimenta. Ou então deixar uma noz de boa manteiga se derreter sobre o ovo, salpicando-a de salsa ralada. Um ovo bem passado, é um combóio de suaves aromas pelo palato em deleite!

Antes de ir fazer o pequeno-almoço, mandei o Mauro experimentar estrelar um ovo. Saiu-se bem, embora deixasse respingar gordura quente na camisa branca que usava. A mãe mandou imediatamente colocar a camisa num alguidar com detergente. "Persil" (como salsa em francês) lia-se no boião de detergente líqido. Fiquei curioso por saber a razão de tão estranho nome. Salsa?! Não é que uma longa história se esconde atrás desta marca (PERSIL foi lançado em 6 de Junho de 1907) cujo nome vem da junção de PERborato e SILicato de sódio, ingredientes da fórmula original! Já que estou nas efemérides do dia, o ferro de engomar eléctrico que será usado logo à noite, viu sua invenção também num dia 6 de junho (de 1882) por Henry Seely of New York City.

Finalmente: "quem foi o célebre pintor que pintou os ovos estrelados da velha?" Asks um imaginário amigo meu. (hoje é o aniversário do nascimento do artista... claro!)
publicado por jorsoubrito às 16:26 | link do post | comentar